O feitiço da influência: Sugestão e submissão segundo Freud

O feitiço das pessoas está profundamente ligado à capacidade de fascinar e exercer poder sobre os outros. A palavra “feitiche” tem sua origem no termo “feitiço”, e essa relação linguística reflete um nexo de dependência: estar fascinado por algo ou alguém e, ao mesmo tempo, estar submetido a essa força.

Sigmund Freud estudou esse fenômeno e o denominou sugestionabilidade humana ou hipnose. Para ele, o magnetismo pessoal e a influência exercida por certas figuras sobre outras pessoas revelam uma vontade inata de ser governado, uma necessidade profunda de entrega e submissão. A dependência confiante que os indivíduos depositam em um líder demonstra essa busca por orientação e proteção.

Freud exemplifica essa submissão coletiva ao lembrar que, na Primeira Guerra Mundial, incontáveis homens saíram das trincheiras e marcharam sob intenso fogo inimigo, motivados pela fé e confiança em seus comandantes. Essa necessidade de um auxílio mágico e de um guia, que chamamos de “entrega transferencial”, demonstra como os seres humanos frequentemente evitam seguir a si mesmos e buscam escapar da responsabilidade de seus atos por meio da submissão a uma autoridade.

Em “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, Freud explora o conceito de feitiche como um instrumento de controle social. O Outro pode ser tanto um modelo a ser seguido quanto um adversário a ser combatido. Pensamentos e sentimentos são orientados em função daquele que exerce influência sobre nós, de tal forma que essa sugestão hipnótica pode nos transformar em “seres pensados”, nos levando a um estado de devoção que paralisa qualquer forma de crítica.

Essa capacidade de influenciar pode também estar associada à direção e ao controle das massas. Freud aponta que, nesse contexto, a violência pode ser utilizada como um instrumento de poder, onde a dominação das mentes ocorre por meio da promessa de amor e liderança. A submissão a um líder é comparável à relação infantil de dependência com um pai, criando um “ideal de eu” que dita comportamentos e regula ações. Isso, por sua vez, reduz a autonomia individual, reforçando o desejo humano de ser guiado em detrimento da própria capacidade de decisão.

Freud considerava que as palavras e a magia tinham origem semelhante, atribuindo à palavra um poder de ação. Para ele, a palavra era ato, pois, por meio dela, o sujeito cria um mundo, manipula ou mente. Contudo, seu poder vai além do caráter curativo: ela possui um potencial sugestionador. Desde que se devolva à palavra o seu feitiço originário, torna-se evidente que o sujeito só pode advir de onde fala sem saber, ou seja, do inconsciente. Assim, o discurso não é apenas um meio de comunicação, mas um instrumento de influência e dominação que estrutura a própria subjetividade humana.