Desejos, temores e ansiedades: O equilíbrio da medida

O ser humano, com seus desejos, temores e ansiedades, vive em constante busca por equilíbrio. Em sua natureza, existe uma tensão entre o amor e o pesar, entre o impulso para a realização e o medo da perda. Esses sentimentos, que moldam a experiência humana, são frequentemente impulsionados por forças internas conflitantes. Como propôs Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”. Conhecer a si mesmo, portanto, não é apenas entender o que desejamos ou tememos, mas compreender as nossas medidas: os limites e as forças que nos impulsionam.

A ansiedade, como reflexo dessas forças internas, exerce um papel fundamental no processo de busca por equilíbrio. Quando o indivíduo está desajustado ou desequilibrado, a ansiedade pode intensificar a voracidade de seus desejos, tornando-os insaciáveis, como se os impulsos se tornassem uma força descontrolada, sempre à procura de mais. A ansiedade, portanto, não apenas exacerba os desejos, mas também suscita os impulsos destrutivos, que buscam preencher uma falta interna — um vazio que nunca parece ser completamente preenchido.

O conceito de que todo excesso esconde uma falta é central para a compreensão da dinâmica entre desejo e sofrimento. Cada impulso desmedido, cada busca incessante por prazer ou satisfação, é um reflexo da tentativa de suprir algo que falta.

O prazer, quando alcançado através do vício e da compulsão, perde seu valor e se transforma em fonte de dor. Como afirmaram filósofos e pensadores ao longo dos séculos, não há prazer no vício.

Certas coisas boas são dolorosas, e a vida nos ensina que existem aprendizados amargos que, paradoxalmente, são essenciais para o nosso crescimento. A dor do aprendizado e do amadurecimento muitas vezes surge como consequência de escolhas impetuosas, movidas pela voracidade de nossos desejos. Contudo, é no enfrentamento dessa dor que ocorre o verdadeiro crescimento.

Em última análise, o conhecimento de nossas medidas é o verdadeiro caminho para o autoconhecimento. Conhecer-se a si mesmo é mais do que identificar desejos e medos superficiais; é compreender a profundidade do que nos impulsiona, das lacunas que procuramos preencher e das forças que nos equilibram. Ao invés de sermos submissos aos desejos que surgem sem controle, é fundamental aprender a moderar e integrar essas forças de forma mais consciente e equilibrada.

Portanto, ao nos esforçarmos para conhecer nossas medidas, começamos a encontrar o verdadeiro equilíbrio. Isso não significa abandonar os desejos ou temores, mas aprender a navegar entre eles de forma saudável e reflexiva. O equilíbrio não está em suprir a voracidade dos impulsos com a busca desenfreada pelo prazer, mas em compreender que cada desejo tem sua origem e suas limitações.

“Gozo, logo existo” pode ser vista como uma versão inversa do célebre “penso, logo existo” de Descartes, que fundamenta a existência na razão e no ato de pensar. Ao substituir o raciocínio pela experiência do gozo, essa afirmação nos coloca diante de uma questão fundamental da psicanálise: o lugar do desejo e da satisfação na construção do sujeito e de sua identidade. O gozo, para a psicanálise, não é apenas uma sensação de prazer, mas algo muito mais complexo e, muitas vezes, paradoxal, que envolve o sujeito em sua totalidade, inclusive em sua relação com a falta e com o inconsciente.