Escrever é, antes de tudo, um ato de sonho. Quando o ser humano se entrega à escrita, ele se transforma, ele se torna um outro, uma versão de si mesmo que habita não apenas o presente, mas outros tempos e lugares. Ao brincar, a criança não apenas imita a realidade, mas também a transforma, assim como o poeta transforma as palavras e os significados através da poesia. A criança, assim como o poeta, cria mundos imaginários para lidar com suas angústias, medos e desejos reprimidos.
No caso das crianças, a escrita terapêutica mostra que o imaginário não é fuga, não é alienação, mas uma ponte poderosa para o entendimento de si e do mundo. Ela é um meio de percepção, um caminho para conhecer-se e compreender as relações que construímos com tudo o que nos cerca. Ao criar, a criança desenvolve seu mundo interior, pois a escrita, tal como o brincar, é um espaço de liberdade, de criação, de invenção. Ela é o ponto de encontro entre o real e o sonho, entre o que somos e o que desejamos ser.
A infância é o território das descobertas e invenções, e mesmo o adulto carrega em si um resquício dessa curiosidade infantil — o impulso de explorar, de questionar, de buscar, de saber. Esse desejo de compreender o mundo e de se expressar é atemporal. Escrever, então, é uma aventura, um mergulho no desconhecido, um exercício de sondagem de si mesmo. A criança, como criadora, é uma verdadeira exploradora da geografia do sonho, habitando paisagens afetivas que vão além do tempo cronológico. Ela vive sem as amarras dos relógios, imersa em um fluxo contínuo de imaginação.
Ao brincar, a criança se faz outro. Ela se transforma, adentrando mundos paralelos onde a realidade e a fantasia se entrelaçam de maneira simbólica. Esse pensamento simbólico é a essência da criatividade, é o que permite à criança ver o mundo de diferentes ângulos, imaginar outras possibilidades de ser, de existir. E é através da imaginação poética que ela aprende a se conhecer, a encontrar-se em seus próprios sonhos. Porque sonhar, no fundo, é um caminho para o autoconhecimento, é um meio de explorar as profundezas de nossa alma e de descobrir que somos, também, os criadores de nossa própria realidade.
Assim, ao escrever, ao brincar, ao imaginar, a criança não apenas expande seus horizontes, mas nos ensina a todos a importância de manter viva essa chama da curiosidade e da criatividade — um convite constante a explorar o mundo com os olhos de quem ainda acredita no poder transformador dos sonhos.
Como bem afirmou William Blake, a imaginação não é apenas um estado, mas a essência de toda a existência humana. Ela é a força que impulsiona o ser humano a transcender os limites do presente, a mergulhar em outras possibilidades e a dar sentido ao mundo. Escrever, nesse contexto, é mais do que uma simples ação de colocar palavras no papel. É uma exploração dos poderes do imaginário, é uma jornada rumo ao desconhecido, onde os sonhos, as ideias e as emoções se entrelaçam, revelando as necessidades mais profundas da humanidade.
Escrever, portanto, é um alimento essencial para a alma humana, um meio de transformar o intangível em algo concreto, de traduzir os poderes do imaginário em algo que possa ser compartilhado, vivido e compreendido. Em cada linha, em cada frase, há um convite para que nos reconectemos com a nossa essência criativa, com a grande aventura da existência.